02 junho 2009

O Dia-a-dia de um Faringítico

Se eu fosse reformular o post intitulado "lição toon" desse meu blog, frisaria que bebida alcoólica e gelada, narguille, cigarros, madrugadas brumosas, tocar o violão e cantar os pulmões são todas coisas divertidas, mas que desconhecem as regras de respeito mútuo.

Ou seja, acordar lixo (aqui, adjetivando o substantivo) no dia seguinte pode não ter sido menos que compreensível. E quando disse lixo, deveria mencionar febre, dor de cabeça, obstrusões nasais e - a estrela do post - faringite.

As outras dores a gente carrega, mas essa, que subestima nossa voz e que faz de nossos grandes momentos de prazer - comer - um sacrifício, é execrável. Essa é a moléstia onde o deglutir nos assemelha à sensação de ter um pilão socando seu palato mole. Essa é a via crucis oral.

Na ânsia por melhoras, questionei as pessoas mais próximas, que me sugeriram (1) gargarejo com limão, vinagre e sal, (2) spray de gengibre, mel e própolis e (3) mel e limão. As sugestões enumeradas foram todas adotadas.

Depois de24 horas após acordar derrotado, fui à fármacia - só com o focinho e os olhos à mostra - e comprei (4) uma dipirona sódica em gotas, (5) um spray para dor de garganta que tem um sexto da composição como anestesiante e (6) um genérico duma versão em comprimidos do saudoso e nostálgico Cataflan, o antiinflamatório da moçada!

Sendo oito horas o período desta (última) dose, depois da segunda, resolvi que repousaria pelo tempo de quanto eu dispusesse. Contente por endossar meu ócio, logo retomei o acompanhamento que eu abandonara há um ano e meio de Lost - sem medo de ser feliz! Mas também obedeci à sorte que, naquele dia, o Orkut me empurrara: comecei a ler um livro. Valendo-se de um período de baixa de minha dor-de-cabeça intermitente, à meia-luz, abri O Castelo de Otranto de uma edição escrotíssima que o faz parecer literatura infanto-juvenil. Não pulei a mini-biografia do autor nem seus dois prefácios, mas a narrativa era muito cerrada e concisa para um convalescente. Então, quando um elmo gigantesco esmagou do nada - do nada absoluto - o filho do príncipe no dia de seu próprio casamento, não soube se se tratava de delírio meu e optei por apagar a luz e dormir.

Na noite seguinte, quando a enfermidade já teria desembolado umas 60 horas de meu novelo de tempo, recorri ao Google. Consultei várias tabelas que traçavam distinções entre a faringite viral e a bacteriana. Apesar de inconclusivo (deu empate), lucrei sugestões úteis de como fazer tolerável a vida de um faringítico. (7) O gargarejo com água morna e sal , por exemplo, suspende brevemente a dor. A outra dica foi a de uma dieta líquida, o que me levou de olhos nus - e só os olhos - ao supermercado, onde comprei chá, sopa, suco pronto pra beber, frutas e outras boiolagens com quais, saudável, nunca gasto um centavo. Dei, por fim, suspensão a meu belo jargão: "Eu engulo qualquer coisa".

Agora estou aqui, sentado ao balcão de uma cozinha, a narrar-lhes bagatelas. Sim, estou melhor que há dois dias. Continuarei exercendo os sete métodos citados e volto a escrever quando alguma ocasião me pedir para ser notificada.

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