24 agosto 2009

Slasher

Sempre haverá alguém pra colocar uma manta nas costas da moça casta e lhe oferecer uma caneca de chá depois que o assassino em série é (tido como) morto na madrugada dentro de seu próprio sobrado, então sitiado pela polícia local.

Mesmo agora não tendo em mente nenhum título em específico, na minha cabeça o final é sempre esse. E só estou falando isso porque vi uma lista com clichés do gênero e esse quadro não foi mencionado.

21 agosto 2009

Milkybar

O mais aborrecido do hábito de fazer as necessidades (comer, a priori) nos Restaurantes Universitários - refiro-me só àqueles que também são apelidados pelo acrônimo, R.U. - é a coletivização do espaço. Poderia mencionar as lufadas mornas de almoço que a cozinha exala, as filas ou a ambientação. Mas não é o caso. E também não é o da higiene - mesmo porque confio mais em suas cautelas asséptico-sanitárias do que nas dos outros restaurantes dos quais os arredores de uma universidade dispõem.

O que é mais intragável que o bife de adamantium é a possibilidade de pessoas (pessoas quaisquer; pessoas) se sentarem ao seu lado. Aí você tem de aproximar seus pertences. Aí você tem de limitar seus cotovelos. Aí você está aproximado a um ou mais estranhos não só pelo espaço, mas também pela dissaborosa cumplicidade de que você e o outro não estariam lá se aceitassem gastar com o almoço mais do que se gastaria com um Milkybar.

Tudo isso seriam veleidades, apenas, se os próximos não sobrecarregassem suas bocas com a atribuição de falar. Não sei como o mundo molesta os sentidos de vocês, leitores, mas meu estado de espírito ainda não se emancipou das condições auditivas.

Minha filosofia de vida é centrada na crença da aleatoriedade de acontecimentos, também dita acaso. Mesmo assim, não consigo deixar de pensar que sou vítima de uma deliberação maligna e misteriosa quando as conversas mais irritantes postam sempre suas bandejas ao meu redor.
Detectada minha irritação, pude empilhar traços dos sujeitos escolhidos pelo Departamento de Deterioração de Almoço (DDA) do Instituto Cósmico de Irritação de André Kangussu (ICIAK), uma fundação não lucrativa, mantida apenas pela sede de crueldade e de diversões sujas do acaso.

Vou chamar de Cronos o sujeito de perfil genérico que trabalha pro DDA e me acompanha nas refeições. São todos Cronos; assim, Cronos conversa com um ou mais Cronos. Vamos às características: Cronos está sempre insatisfeito com o preço das fotocópias. Cronos pretende mestrar-se em outra universidade paranaense. Cronos é abundante ao falar mal de seus professores. Cronos argumenta sobre a sexualidade do colega de classe. Cronos fala sobre os relacionamentos antigos com comida nos dentes. Cronos é supereclético, gosta de qualquer tipo de música.

Não estou lhes apresentando o sujeito com mágoa - é o trabalho dele, o Cronos -, trata-se apenas de meu espanto quanto à insistência das coisas em se repetirem.