17 fevereiro 2010

Balneário Camboriú: Relato de Viagem

Na véspera do Carnaval, recebi o telefonema de um amigo me convidando com urgência a uma viagem à praia. Sem tempo de analisar prós e contras, eu já estava tirando as peças do varal e as colocando direto na mala - que de onde venho chamam de "mochila".

Chegamos com umas horas de vantagem devido ao milagroso GPS de um amigo, literalmente antenado, que nos apontou uma rota alternativa de pista única que nos desafogou das BRs abarrotadas.

Logo na avenida em que a rodovia penetra a cidade, viam-se prostitutas dispostas uma a uns 20 metros da outra ao longo de várias quadras. Já passava da meia-noite e a cidade estava acesa e muito viva e assim permaneceu até poucas horas antes do alvorecer. Da janela do apartamento, logo notei uma orla côncava e iluminada, com morros nas extremidades, o que significa que eu não pude evitar a lembrança do Rio de Janeiro.

À luz do dia seguinte pude me atentar à cidade. Andei por umas 10 ou 15 ruas centrais numa região que ia da orla até umas três quadras de profundidade. O que mais me chamou a atenção nessa região foi a urbanização do ambiente, que me pareceu muito intensa para uma cidade (brasileira) de 100 mil habitantes. Eu nasci e cresci em uma cidade com a mesma população, Umuarama (PR), que nunca comportou um estabelecimento de fast-food, nem mais de duas casas noturnas simultaneamente, que passou metade dos anos noventa sem dispor de sequer uma sala de cinema e que tem - o quê? - uma livraria, pelo que me lembro. Essa região por onde estive deu uns indicativos muito espertos de sofisticação e qualidade de vida: várias lojas especializadas em uma única marca, várias salas de cinema, todas as lanchonetes das principais redes de fast-food, bares de rock, boates gay, cafés, carros importados, sebos, mais de um hotel por quarteirão, shopping centers e galerias e, o mais impressionante, uma quantidade assustadora de edifícios altos lado a lado.

Nos dias seguintes, estive em alguns lugares legais e em outros nem tanto. Na região sul, há um molhe de pedras comprido penetrando o mar que, segundo um camarada é apenas uma da maioria das obras da cidade que foram construídas há até três anos. Ao norte, há um complexo turístico no qual não estive, mas de onde se vê um farol disfarçado de Cristo Redentor que fica mudando de cor pointlessly. Ele tem um braço estendido e o outro segurando a luz sobre o ombro. Vi alguns nativos destacarem a cafonice do monumento.

Ao sul, há a Praia das Laranjeiras, onde o mar ainda está digerindo as pedras e onde encontrei mais turistas falando inglês.

Um pouco ao norte, encosta-se em Itajaí a cidade de Navegantes, onde vivenciei uma experiência raríssima em minha vida, que é estar em uma festa de Carnaval a céu aberto. Eu sei, é difícil para nós, chatos, resistir a criticar tais ambientes. E lá estava eu, entre umas 50 mil pessoas, me arrastando atrás do trio elétrico à margem da multidão suada. Depois de umas horas de calor, brigas, marchinhas, pessoas travestidas, axés, poesias ambíguas, polissêmicas e cacofônicas e todos os requintes de depravação que se espera do ambiente, eu já conseguia enxergar a letra de "Meu Mundo e Nada Mais" ao fundo do meu campo de visão, legendando meu cansaço nos momentos antes de voltar a Balneário Camboriú. Apesar disso, a experiência de estar lá com amigos não foi de todo desagradável, devo admitir.

Demonstrou também ser uma cidade frutífera a quem está atrás de romance ou de - sei lá - shows ao ar livre.

Mesmo com os bem afortunados encontros, na hora de abandonar, eu já estava curtido demais para não sentir saudade de casa. Depois de quatro dias vencendo o asfalto, a areia, a música fácil e a falta de sono, eu só "queria estar no escuro do meu quarto, à meia-noite, à meia luz". Foi nesse clima de cansaço que, na madrugada da Quarta de Cinzas, eu abandonei a cidade; e os pulmões, o fígado e o coração, a cada dia mais velhos.


Molhe da Barra Sul, Balneário Camboriú, SC